O Brasil das Apostas

Uma reportagem sobre as apostas esportivas no país

Bora forrar: saiba como vivem e trabalham os apostadores profissionais

No grupo de Telegram do perfil Odds Altas, o que mais se fala é em “forrar”. Desde que o grupo foi criado em agosto de 2022, é possível encontrar 76 variações do termo que no vocabulário dos apostadores significa “ganhar muito dinheiro”. No espaço com aproximadamente 100 mil inscritos, o dono do perfil (de identidade desconhecida) divulga dicas gratuitas para que os seguidores – também chamados por ele de ‘primos’ – faturem uma grana apostando em “odds” altas de jogos de futebol, garantindo assim retorno maior do que as normais. Para conseguir isso, ele monta os “bingos”, que são combinações de possibilidades de eventos que acontecerão no jogo. No dia 8 de abril, por exemplo, temos um exemplo de bingo feito com a vitória do Real Madrid com mais de um (sendo um deles de Benzema) e mais outros eventos de dois jogos.

Foto: Reprodução/Telegram do Canal Odds Altas

“Odd” (termo em inglês que significa ‘chance’) é uma expressão comumente usada para descrever a probabilidade de um evento acontecer. Quem define as odds são especialistas baseados em estatísticas e no comportamento dos seus usuários.

No Brasil, as “odds” geralmente são dispostas no formato decimal. Para simular o possível resultado, o apostador precisa multiplicar a quantia a ser jogada pela odd respectiva.

Por exemplo, imagine um clássico Grenal com odds de 2.1 para vitória do Grêmio, odds 3.0 para empate e 2.5 para vitória do Inter. Isso significa que se você apostar 100 reais no sucesso do Inter e este resultado se concretizar, você recebe de volta 250 reais (100 x 2.5 = 250).

Perfis como o Odds Altas têm se multiplicado na medida em que a popularidade das apostas esportivas também. A atividade está autorizada no país desde a sanção da Lei 13.756/2018 no Governo Temer, mas segue sem uma regulamentação de fato. A legislação previa a criação de regras em até quatro anos, mas no fim isto não aconteceu. Com o início do terceiro mandato do presidente Lula, o assunto se tornou uma das prioridades na pauta econômica. O ministro da Fazenda Fernando Haddad tem expressado a necessidade de que o Estado regulamente e taxe as casas de apostas, medida que é vista como parte dos esforços da equipe econômica para emplacar o novo arcabouço fiscal.

Leia a matéria: Na mira do Governo Federal, casas de apostas estão próximas da regulamentação

As infinitas possibilidades

Hoje em dia as casas de apostas oferecem inúmeros mercados de jogos para os fãs de esportes. Não se trata apenas de chutar em quem vencerá a partida, mas também de uma série de outras opções. Por exemplo, é possível apostar no placar exato, no número de mais ou menos gols (ou pontos marcados), no desempenho individual dos jogadores (e muito mais). Durante a Copa do Mundo, era comum encontrar na casa Betano até uma espécie de “microaposta” instantânea em que você palpitava no que iria acontecer a cada minuto dos jogos. 

Mercados abertos na bet365, casa muito popular entre os apostadores, para a final do Campeonato Carioca entre Flamengo e Fluminense. Quando se vence alguma aposta, é comum encontrar pessoas dizendo nas redes sociais “paga, Denise!” (menção direta para a CEO da bet365, Denise Coates). Foto: Reprodução.

Entretanto, as apostas esportivas não se limitam apenas aos esportes tradicionais, como futebol, basquete ou vôlei. Também é possível apostar em esportes menos conhecidos, como críquete, corridas de cavalos e até mesmo esportes eletrônicos, como League of Legends e CS:GO. Dentro delas também é possível participar de diversos jogos no estilo de cassino e bingo.

Os videntes do esporte

Em um país que no ano passado voltou ao Mapa da Fome da ONU e que viu seus níveis de extrema pobreza baterem recordes, a possibilidade de ficar rico do dia para a noite ajuda a explicar o sucesso das casas de apostas para além do seu valor recreativo. Entretanto, este tipo de esperança irresponsável leva muitas pessoas a enfrentar dívidas ou até desenvolver transtornos psicológicos como a depressão e o vício. Dentre todos os apostadores analisados durante a reportagem, existe uma unanimidade: escolher viver disto requer estudo e preparação.

O tipster (outro termo para apostadores profissionais) brasileiro mais popular nas redes sociais também concorda com isso. Lucas Tylty, carioca de 24 anos, é um apostador esportivo profissional que vem se destacando no ramo.

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Uma publicação compartilhada por LUCAS TYLTY (@lucastylty)

Em 2013, o jovem apaixonado por futebol descobriu que poderia ganhar dinheiro sem jogar e decidiu aprender mais sobre como fazer isso. Tylty se mudou para os Estados Unidos, onde inicialmente sobreviveu se mantendo com subempregos até conhecer um apostador profissional de beisebol que o ensinou como investir legalmente em esportes. Tylty mergulhou no negócio e rapidamente se tornou bem-sucedido. De acordo com o Observatório dos Famosos (UOL), o apostador agora é milionário.

Obviamente não é fácil

É difícil encontrar estimativas que analisem as estatísticas dos apostadores com exatidão, mas é do conhecimento geral que os usuários lucrativos representam menos de 5% do total. Além disso, não é preciso pensar muito para perceber que um mercado bilionário como esse não poderia se sustentar com uma proporção grande de vencedores. Como quem dita as regras é o dono, é também muito comum a limitação de usuários que ganham demais.

Entrar no mercado das apostas de forma profissional envolve muita análise de estatísticas e até o gerenciamento de equipes focadas em interpretações de dados, como é o caso do próprio Lucas Tylty. O apostador profissional Leonardo Silveira, que conta com mais de 20 mil seguidores no Twitter, publicou na rede social uma espécie de “lista de mandamentos” para novos tipsters (e que foi um sucesso). A série de dicas converge com o que a maioria dos apostadores profissionais prega em grupos públicos e privados.

Nove dicas para apostadores (texto adaptado)

1. Não trabalhe com todos os esportes possíveis. Selecione um ou dois e seja expert neles;
2. Foco em um submercado, ou seja, não queira trabalhar apostando em gols, escanteios em um mesmo jogo. Se prepare e se especialize em um só;
3. Faça menos entradas. Muita gente se perde na quantidade de entradas diárias, mas leve em consideração a frase “menos é mais”;
4. Tenha paciência: um, dois ou três reds (apostas mal sucedidas) não podem te levar a colocar a sua banca em risco;
5. Controle emocional: se você souber se controlar nos momentos mais “tensos”, com certeza terá mais tempo para pensar antes de agir;
6. Esqueça “dinheiro”: trate sua banca como unidades ou porcentagem. Muita gente sofre com isso, vê que o dinheiro diminuiu na banca e acaba se desesperando. Trabalhando com unidades ou porcentagem você perde a angústia da perda;
7. Siga tipsters de confiança e de mercados diferentes. Não siga três que trabalham com o mesmo mercado, por exemplo. Diversifique sua carteira de tipsters entre mercados e até mesmo esportes;
8. Coloque seus resultados em uma planilha, bloco de notas (ou seja o que for). Não deixe de anotar as suas entradas e ter controle sobre elas;
9. Leia novamente todas as 8 dicas acima e não se esqueça: FAÇA GESTÃO DE BANCA (aqui ele explica melhor o conceito)!